quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Conclusão - Comunhão Fechada: testemunho de teólogos luteranos ao longo da história

Comunhão Fechada: testemunho de teólogos luteranos ao longo da história

Autor: André dos Santos Dreher

CONCLUSÃO

A Igreja Luterana ao longo de sua história, suas congregações, os seus mais variados teólogos, tem afirmado e confessado a comunhão fechada ou restrita para a participação na Santa Ceia. Ela faz isso não por fanatismo ou por falta de amor para com Deus e para com o próximo, mas sim por fidelidade ao Senhor da Igreja, por amor a todos os que participam dos cultos na Igreja Luterana e por cuidado pastoral. (98)
Agora, no século XXI, a Igreja não precisa fugir do mundo, isolando-se, nem fazer concessões, deixando o pós-modernismo moldar a Igreja, seu corpo doutrinário, sua prática.(99) Mas precisa continuar reafirmando suas doutrinas, sua fé com convicção, amor e respeito. Isso para que mais pessoas sintam-se amadas, perdoadas por Jesus e, depositando toda sua confiança nele, queiram receber o verdadeiro corpo e sangue de Cristo, após terem sido devidamente instruídas, após terem rejeitado todo e qualquer ensino heterodoxo e confessado publicamente sua fé, tornando-se assim um só com o corpo de Cristo, a sua Igreja.

Por fim, deseja-se aqui o que o Dr. Joel Biermann afirmou na conclusão de seu artigo, “se este estudo teve um pouco de sucesso em persuadir, mesmo que seja um só leitor, da séria importância da doutrina correta para uma prática correta, então seu propósito foi alcançado”. (100)



Notas:

98) Isso faz lembrar o que o Dr. Sasse afirmou, “É bem possível que a história da igreja demonstre no futuro próximo que a lealdade confessional, que é tão estigmatizada como ‘loucura sectária’, tenha contribuído mais para a verdadeira união da igreja do que o tipo de tolerância que, em nome do amor fraterno, tem recebido todo tipo de erro de braços abertos”. SASSE, Hermann. Aqui nos Firmamos: natureza e caráter da fé luterana. Tradução de Leandro Daniel Hübner. Canoas: Editora da ULBRA, 2008., pp. 8-9.
99) VEITH, Gene Edwar Jr. De Todo o Teu Entendimento: pensando como cristão num mundo pós-moderno. São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p.11.
100) BIERMANN, op.cit, p. 72.

Comunhão Fechada: testemunho... Mark Buchhop

Comunhão Fechada: testemunho de teólogos Luteranos ao longo da História

Autor: André dos Santos Dreher

BUCHHOP, Mark. Presenting Closed Communion and the Divine Service. (85) [Apresentando a Comunhão Fechada e o culto Divino]


A prática da Comunhão Fechada não é Inovação
O pastor Mark Buchhop, apontando para a História da Igreja, afirma, “A prática da comunhão fechada, como uma prática bíblica, tem sido a norma desde o princípio do Sacramento. ‘A limitação estrita da participação é evidenciada claramente no final do período apostólico’ (86). Além disso, a teologia Luterana e a Reforma também declararam que ‘Pois ninguém é admitido a menos que antes seja examinado e ouvido’ (CA XXIV 6; Cf Ap XV 40)”. (87)

Unidade em Cristo
“Comunhão fechada está lidando com unidade no altar. Ela é uma unidade um com o outro por causa de nossa unidade com Cristo. A comunhão que cristãos desfrutam na Mesa do Senhor é diferente de todas as outras no mundo. Ela nos une junto com o próprio Jesus Cristo. ‘o que liga aqueles que participam da Santa Ceia não é que eles tem alguma coisa para fazer um com o outro, suas relações humanas um com o outro, mas o que eles compartilham em conjunto’. Isso que nós compartilhamos, o que nos une, é Jesus Cristo”.(88)
Participação na Ceia e Confissão de Fé
Citando Mt 12.25, Buchhop afirma, “a confissão da casa de culto na qual a pessoa ‘está firmada’ é também a confissão das pessoas que lá estão firmadas. Como pode uma pessoa num Domingo estar firmada numa doutrina e no próximo domingo estar firmada numa outra, que é contrária à primeira?”.(89) Então ele segue citando Werner Elert, “para a igreja antiga um homem era ortodoxo ou heterodoxo de acordo com sua confissão. Ele era um ou outro de acordo com aquela confissão com a qual ele estava ‘em comunhão’. A comunhão na qual ele estava firmado, a igreja para a qual ele pertencia, era mostrada através do onde ele recebia o Sacramento.... Já que um homem não pode ter ao mesmo tempo dois tipos de confissão, ele não pode comungar em duas igrejas de confissões diferentes. Contudo, se ele faz isso, nega sua própria confissão ou não tem nenhuma”.(90)

Também o autor cita o documento da Comissão de Teologia e Relações Eclesiais da LCMS, “Cristãos (que recebem o Sacramento) não devem ser vistos meramente como ‘indivíduos’, mas também como ‘confessores’ da doutrina de seu próprio corpo eclesiástico”. (91)

Tempos Pós-Modernos
Buchhop lembra que “Enquanto a prática bíblia da comunhão fechada é importante, nunca foi tão difícil colocar em prática nos dias de hoje o que o título desse artigo sugere [Apresentando a Comunhão Fechada e o culto Divino]. Ao mesmo tempo, nunca foi tão importante proceder dessa forma. Vivemos num período de individualismo maior do que em qualquer período”. O autor cita, então, o orgulho humano como um problema. E cita o pós-modernismo com sua visão de que a verdade não é absoluta. Na sequencia apresenta uma possível resposta de uma pessoa com mente pós-moderna: “Isso pode ser verdade para você, mas não para mim. Eu desejo participar da Ceia do Senhor. Esta é minha decisão, não sua!”. (92)

Um exemplo: ex-visitante, agora membro da Igreja Luterana
O autor também apresenta o testemunho do escritor luterano Gene E. Veith, “Após participarmos dos cultos naquela igreja por muitos meses, eu me dei conta do que ela tinha de diferente. Eu estava vivenciando o que eu não tinha conhecimento, um sentido de santidade. Os talares, os rituais, a arte, a música servia para ‘separar’ o que estava acontecendo da vida diária... Igreja ... era o lugar onde alguma coisa sagrada poderia ser encontrada. A maneira como o pastor fazia reverência à cruz, a Palavra de Deus no altar, a maneira como a congregação se levantava e se ajoelhava, a linguagem mágica da liturgia convenceram-me que alguma coisa diferente, alguma coisa extraordinária está acontecendo aqui.

E quando o culto culminava com a Santa Comunhão o mistério da santidade se tornava palpável. Minha esposa e eu sabíamos que não nos era permitido participarmos da Ceia – não receberíamos o corpo de Cristo até que fôssemos devidamente instruídos, aceitos na comunhão e soubéssemos o que estávamos fazendo. Mesmo que todas as outras igrejas que participamos consideravam o sacramento um negócio de pouca importância, eram liberais e fáceis em relação a quem poderia participar da Comunhão, eu não me sentia incomodado com as regras estritas de comunhão e comunhão fechada dos Luteranos. Tais práticas eram alheias à minha experiência, mas elas me deram um sentimento de que alguma coisa de monumental estava acontecendo com o Sacramento”. E Veith segue dizendo, “O culto Luterano é Teocêntrico, não antropocêntrico. Mas eu me dei conta de que na liturgia luterana o culto está em extraordinário movimento... Achamos os cultos – e a profundidade da pregação e a riqueza das doutrinas ... – tão convincentes que decidimos nos tornar membros”. (93)

Como anunciar/convidar?
Buchhop lembra que tendo uma boa base teológica, histórica, bíblica e prática o pastor estará “pronto para responder a pergunta do visitante, ‘pastor, posso comungar hoje?’”. Então ele lembra a importância de responder com uma boa entonação de voz, postura, expressão de sorriso enquanto faz o anúncio, seja na congregação ou para uma pessoa de forma individual. Afinal de contas o pastor “está desejando convidar aqueles que num futuro próximo estarão perguntando sobre a Santa Ceia nas aulas de instrução de adultos”. (94)

O autor cita um exemplo, “Quando um visitante não-luterano me pergunta se ele pode participar do Sacramento, eu poderia ter respondido a alguns anos atrás ‘Não, sinto muito, mas você não pode participar; você não é um Luterano’. Nota que a primeira palavra que saiu de minha boca foi ‘não’. Esta não é uma palavra evangélica! Hoje, quando perguntado por um não-luterano ou alguém de alguma denominação que não está em união confessional com nosso corpo eclesiástico, eu respondo, ‘Nós adoraríamos que você participasse! Vamos agendar uma hora para lhe oferecer alguma instrução sobre este maravilhoso Sacramento, e que isso possa ser logo’. Nota que eu estou praticando a comunhão fechada de uma maneira positiva, de uma maneira convidativa”. (95)

Cita outro exemplo em relação a essa questão. “Outro exemplo de praticar a comunhão fechada de uma forma positiva: o anúncio na liturgia pode dizer alguma coisa que reflete a resposta verbal dada acima. Depois de listar a prática histórica e ortodoxa da comunhão fechada, o anúncio é concluído com estas palavras: ‘Porém, nós adoraríamos que você participasse da Santa Ceia. O pastor sinceramente lhe convida para compartilhar informações sobre as alegrias da Santa Comunhão. Ele lhe oferecerá instrução sobre nossa fé Luterana e este Sacramento da Santa Ceia, de forma que você esteja preparado e firmado conosco e, assim, participe dessa maravilhosa ceia’”. (96)

Palavra de Encorajamento aos que convidam
E ainda Buchhop deixa uma palavra de encorajamento para os pastores, “A experiência desse escritor tem sido muito encorajadora enquanto tenho usado essa maneira positiva de aproximação no anunciar e praticar a comunhão fechada. Muitos foram recebidos para a família de Deus e como membros da comunhão dos santos, reunida em torno de Palavra e Sacramento na paróquia local. Que oportunidade alegre ao pastor poder compartilhar a realidade abençoada da verdadeira presença de Cristo em Sua Igreja através dos meios da graça: a Palavra pregada e ensinada e os Sacramentos!” (97)



Notas:
85) BUCHHOP, Mark J. Presenting Closed Communion and the Divine Service. In: Concordia Pulpit Resources. Vol 19, part 3, Series B, June 7-September 6. Saint Louis: Concordia Publishing House, 2009. (não serão citadas páginas já que o artigo foi lido na edição digital).
86) Idem. Aqui Buchhop cita Ernert Elert, Eucharist and Church Fellowship...
87) Idem. Aqui a tradução da Confissão de Augburgo é do Livro de Concórdia. Trad. e notas de Arnaldo Shüler. São Leopoldo: Sinodal; Porto Alegre Concórdia, 1997.
88) Idem. A citação em destaque no meio do parágrafo é de Elert, p. 4.
89) Idem.
90) Idem. Esta citação é de Elert, p. 182. Ênfases adicionadas por Buchhop.
91) Idem.
92) Idem.
93) Idem. Aqui Buchhop cita o que Veith afirma em The Spirituality of the Cross: The Way of the First Evangelicals, pp.108-109. [português: Espiritualidade da Cruz. Editora Concórdia, p.110-111 ]
94) Idem.
95) Idem.
96) Idem.
97) Idem.



terça-feira, 22 de agosto de 2017

Comunhão Fechada: Testemunho... Francis Pieper


Comunhão Fechada: testemunho de teólogos luteranos ao longo da história

Autor: André dos Santos Dreher


PIEPER, Francis: Christian Dogmatics Vol III. (80) [Dogmática Cristã]

Confessar a fé e rejeitar o erro antes de participar da Santa Ceia
O Dr. Pieper deixa bem claro que para participarem na Santa Ceia em altares luteranos “membros de igrejas heterodoxas devem primeiro cortar sua conexão com a denominação heterodoxa e devem declarar publicamente sua aceitação da doutrina verdadeira antes que comunguem com a congregação [luterana]. Comunhão na Santa Ceia certamente é comunhão em fé ou comunhão eclesiástica”. (81)



O Pastor Descuidado

Também falando sobre a comunhão fechada, o Dr. Pieper faz uma citação de C.F.W. Walther, dizendo que o mesmo estava correto ao afirmar que pelo ato de praticar a ‘comunhão aberta’ o pastor torna-se “um pastor infiel, inescrupuloso e descuidado” para com suas ovelhas. (82)


Apelando para o amor

Também é lembrado que há congregações que erroneamente apelam para o amor e caridade como base para defenderem a comunhão aberta. Pieper responde a isso dizendo, “o fato é que essa prática é contrária tanto em relação ao amor para com Deus como para com o próximo. Isso porque ela ignora que o Sacramento do Altar deve ser usado propriamente, como descrito na Escritura, o que conduz o próximo a pecar pelo fato de tomar o Sacramento de forma indigna. E o que foi dito sobre a ‘comunhão aberta’ se aplica também em relação à admissão de Reformados em altares Luteranos como ‘convidados’”. (83)

Responsabilidade Pastoral
Falando sobre a responsabilidade do pastor na distribuição e admissão à Santa Ceia, Pieper afirma, “o pastor é pessoalmente e diretamente responsável não apenas para com a congregação, mas também para com Deus, no que diz respeito à admissão de pessoas à Santa Ceia”. (84)


Notas:


80. PIEPER, Francis. Christian Dogmatics. Vol III. Saint Louis: Concordia Publishing House, 1953.
81. Idem, p. 385.
82. Idem, p. 385.
83. Idem, p. 385-386.
84. Idem, p. 389.

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Comunhão Fechada: Testemunho... Hermann Sasse (The Lonely Way - Vol I)

Comunhão Fechada: testemunho de teólogos luteranos ao longo da história

Autor: André dos Santos Dreher


SASSE, Hermann: The Lonely Way, Vol I. [O Caminho Solitário] (75)

Culto é Público, a Santa Ceia não
O Dr. Hermann Sasse lembra que o culto é público, que toda pessoa pode participar do mesmo, ouvir a Palavra de Deus que ali está sendo anunciada. A pregação é destinada a todos os presentes. Mas ele afirma que “a Santa Ceia nunca foi para todos, somente para os que foram batizados e, posteriormente, confirmados”. (76)

Comunhão Eclesiástica é Comunhão de Altar (e vice-versa)
Sasse, em nota de rodapé faz o seguinte comentário, “Comunhão Eucarística é comunhão de Igreja. Por essa razão, na medida em que tomam suas confissões de forma séria, várias igrejas confessionais recusam mutuamente a admissão à Ceia, em princípio. [...] Dessa forma Luteranos não negam aos Reformados o nome ‘irmão’, mas os admitem à Ceia apenas quando eles tiverem renunciado suas doutrinas falsas. Esta é em todo caso a prática eclesiástica correta”. (77)

Ainda sobre o mesmo assunto afirma, “‘A participação no corpo de Cristo’ (1Co 10.16) significa ao mesmo tempo participação no verdadeiro corpo do Senhor, que nos é dado
na Ceia, e ser membro da Igreja como membro do corpo de Cristo. A Igreja Evangélica Luterana sempre tem entendido isso dessa forma, quando ela derivou de 1Co 10.16 o princípio de que comunhão de igreja é comunhão de altar, e comunhão de altar é comunhão de igreja”. (78)

Igualmente o Dr. Sasse afirma, “Assim como há apenas um Cristo, há apenas uma igreja, a qual é Seu corpo; apenas um Batismo, por meio do qual nós somos batizados para dentro de um corpo, através de um Único Espírito; apenas uma Mesa do Senhor, na qual todos nós recebemos um único pão e, portanto, temos a comunhão com o corpo de Cristo. Disso segue que a comunhão de igreja é comunhão de altar. [...] Comunhão de altar só é possível onde já existe uma comunhão real de igreja” . (79)


Notas:
75 SASSE, Hermann. The Lonely Way: selected essays and letters. Vol I. Traduzido para o inglês por Matthew Harrison. Saint Louis: Concordia Publishing House, 2002.
76 Idem, p. 480.
77 Idem, p. 426-427, nota nº 107.
78 Idem, p.467.
79 Idem, pp. 332-33. Ênfases no original.