terça-feira, 21 de março de 2017

Comunhão Fechada: testemunho.... Werner Elert

Comunhão Fechada: testemunho de teólogos luteranos ao longo da história

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W. Elert: Eucharist and Church Fellowship in the First Four Centuries (4) [Eucaristia e Comunhão Eclesiástica nos Quatro Primeiros Séculos]

Divisão na Igreja

Elert lembra que há pessoas que pensam que as divisões da Igreja e na Mesa do Senhor tem uma história de pouco mais de 500 anos. Para mostrar que isso não é verdade ele cita as divisões entre a Igreja Oriental, entre Monofisitas e Nestorianos, cerca de 500 anos e 1000 anos antes da Reforma, respectivamente .(5) E ainda afirma, “entretanto, ao contrário do que dizem em nossos dias, as divisões da Igreja não começaram com a Reforma. A igreja sempre, e desde o seu começo, sofreu tais divisões. Desde o dia dos apóstolos a Igreja tem enfrentado a questão de como essas divisões afetam a comunhão de altar”.(6)

Comunhão não é Arranjo Humano
Schleirmacher afirmava que comunhão eclesiástica dava-se por meio de ações voluntárias de homens e que estes estão e são livres para fazerem seus próprios acordos e arranjos. Entretanto Elert lembra que esse tipo de pensamento pode conduzir pessoas a entrarem em comunhão eclesiástica (de púlpito e de altar) sem total acordo eclesiástico e doutrinário.(7)

Comunhão não é produzida por um ato humano. “O que conecta as pessoas que recebem a Ceia do Senhor não é que eles tem alguma coisa um com o outro, sua relação humana um com o outro, mas o que eles compartilham junto”.(8)

Logo, quem faz com que haja comunhão consigo mesmo e entre o povo de Deus, é o próprio Salvador Jesus. Por isso Elert lembra, “A Eucaristia faz de nós um só corpo. Ela une todos com Cristo e também um com o outro”. (9)

Participar na Ceia = ter a mesma confissão de fé
Para que a pessoa possa participar da Ceia precisa ter a mesma fé que é confessada pela igreja. Elert lembra, “Pela sua participação na Santa Ceia numa determinada Igreja, o cristão declara que a confissão daquela Igreja é sua confissão. Já que uma pessoa não pode ter, ao mesmo tempo, duas confissões diferentes, não pode comungar em duas igrejas com confissões diferentes. Se alguém procede dessa forma, nega a sua própria confissão de fé ou não tem nenhuma confissão de fé”.(10)

Elert lembra que na Igreja Antiga, “Em cada caso, participação na Santa Ceia completa a recepção na comunhão da Igreja. Sem comunhão com a igreja, sem comunhão de altar”.(11) Logo, estava bem claro para os cristãos da Igreja Antiga quem era da Igreja e quem não era. Dentro dela estavam os ortodoxos, fora estavam os heréticos.(12)

Ensinos Errôneos Dentro da Igreja
O autor também lembra que muitas coisas que perturbaram a Igreja cristã nos primeiros séculos entraram por meio do culto, pregação e sacramentos.(13)

Reconhecer Jesus como Senhor e Salvador
Elert lembra que em seus dias, para alguns grupos de cristãos, a unidade da igreja era proporcionada pelo reconhecimento de “Jesus como Senhor e Salvador”. Por isso afirma que se assim fosse, “nada teria permanecido no caminho contra a intercomunhão com Marcião, Valentino e com os Montanistas”.(14)

Ceia = Comunhão de Igreja
Na Igreja antiga, a Santa Ceia era sempre entendida como o que unia os participantes. Logo, havia uma forte ligação entre estar excluído de participar da Santa Ceia e estar excluído da igreja.(15) Isto é, pequena excomunhão e grande excomunhão (excomunhão da Igreja).

Para Elert, onde a Santa Ceia é celebrada há comunhão da igreja. Por isso afirma, “se um homem não está em harmonia com a confissão de uma igreja, ele não pode receber a Comunhão quando o Sacramento é celebrado e distribuído lá”.(16)

Santa Ceia e unidade
Para o autor, Santa Ceia e unidade da igreja, do povo de Deus, estão intimamente ligadas: “a unidade da congregação local é expressa de forma concreta quando seus membros celebram a Santa Ceia juntos”.(17)

“A Igreja Antiga nunca esteve em dúvida de que a unidade em doutrina é um pré-requisito para comunhão de altar. Ninguém que ensinava falsa doutrina podia receber a Santa Comunhão numa congregação ortodoxa”.(18)

Elert lembra que houve momento na história da Igreja Antiga em que correntes diferentes do cristianismo foram unidas por decisão imperial. Os membros das igrejas acabavam indo junto à Santa Ceia. Assim colocavam de lado e como irrelevantes a desunião confessional ou o que os dividia. Por isso, ao “participar da Ceia juntos, estavam apenas mostrando uma unidade que não existiu”. (19)

Como a unidade da igreja pode se estabelecida?
“A unidade somente pode ser estabelecida ou reestabelecida se as congregações ficarem firmadas no puro Evangelho e se elas pronunciarem seu anátema contra todos os outros evangelhos e contra todo homem que prega outro evangelho”. (20)

“A unidade da igreja não é o alvo quando se celebra a Ceia do Senhor junto, mas o pré-requisito indispensável”.(21)

Comunhão Fechada: Batizados e Comunhão
A prática da Igreja antiga era a comunhão fechada, restrita a membros batizados da congregação. Era uma comunhão exclusiva. Não era para todos os que participavam dos cultos.(22)

Elert lembra que “apesar de a pessoa ter que primeiro ser batizada para que na sequencia participe da Santa Ceia, isso não significa que todos os batizados, sem distinção, participem da Eucaristia juntos”.(23) Por isso ele pergunta, “está em harmonia com a comunhão do corpo de Cristo que cristãos que não são um devam ir para a Santa Comunhão juntos?”. (24)

Para Elert “a Eucaristia é comunhão fechada porque a participação é negada não apenas aos não-batizados mas, em certas circunstâncias, também é negada a batizados”.(25) E, nesse sentido, heresia e apostasia excluem o homem da comunhão com a igreja. (26)

Visitantes e Viajantes
Na Igreja Antiga, visitantes e viajantes deveriam apresentar cartas de recomendações para que pudessem participar da santa Ceia em congregação de outra cidade ou região. O Sínodo de Antioquia (341) fez a seguinte recomendação: “nenhum estrangeiro deve ser recebido sem uma Carta de Paz”.(27)

Culto e Confissão de Fé
Para o autor, “Confissão de fé ortodoxa é culto divino”.(28) Vale lembrar que falsa doutrina, heresia, explícita ou escondida, desagrada, ofende a Deus. Por isso Elert segue dizendo, “Confissão de fé é culto. E vice-versa: todo culto divino é confissão”.(29)

A doutrina da igreja está expressa em sua liturgia. A liturgia e todo o culto mostra onde está firmada a esperança, a fé do povo de Deus, sua confissão de fé. Mais adiante Elert afirma, “Dogma é o conteúdo básico do culto divino.” (30)


Confissão de Fé e Unidade
“Dogma é uma expressão de fé, uma confissão do que é crido. Não é um ato pessoal de crer que forma a unidade mas o que é crido”.(31) “Dogma é confissão de fé. Se não há concórdia no que é confessado, a unidade da igreja é, a princípio, duvidosa”.(32)

Elert lembra que na Igreja Antiga, “a comunhão de altar era possível apenas onde havia unidade confessional”. (33)

Admitir Visitantes não membros é Teoria Moderna
“A teoria moderna que diz que qualquer um pode ser admitido ‘como um convidado’ ao Sacramento em uma igreja de confissão diferente, que pessoas podem comungar aqui e ali apesar da ausência de comunhão total de igreja, é desconhecida na igreja antiga, de fato, inconcebível”. (34)






Notas:
4) ELERT, Werner. Eucharist and Church Fellowship in the First Four Centuries. Traduzido para o inglês por N.E. Nagel. St. Louis: Concordia Publishing House, 1966.
5)Idem, p. 43.
6) Idem, p.44.
7) Idem, pp 2-3.
8) Idem, p. 4-5.
9) Idem, p. 30.
10) Idem, p. 182.
11) Idem, p. 116.
12) Cf. p. 114ss.
13) Idem, p. 49.
14) Idem, p. 52. Marcião (séc. II) rejeitou a validade do Antigo Testamento para cristãos já que, para ele, o Deus apresentado nesse Testamento era incompatível com o Deus amoroso revelado por meio de Jesus Cristo; Valentino (séc. II) ligou o cristianismo com ensinamentos gnósticos e politeístas; Montanistas (séc. II) nomeados após Montano, que liderou um movimento profético que previa o retorno iminente de Cristo, propôs também um moralismo estrito aos fiéis que aguardavam o fim do mundo. [dados do Pocket Dictionary of Theological Terms].
15) Idem, p. 27.
16) Idem, p.193.
17) Idem, p. 100.
18) Idem, p.109.
19) Idem, p. 193.
20) Idem, p.46.
21) Idem, p.180.
22)Cf. pp. 65,75-76, 79.
23) Idem, p.80.
24) Idem, p.80.
25) Idem, p.85.
26) Idem, p. 86.
27Idem, p. 131.
28) Idem, p.111.
29) Idem, p.112.
30) Idem, p. 144.
31) Idem, p.143.
32) Idem, p.156.
33) Idem, p. 169.
34) Idem, p. 175



Um comentário:

  1. O problema é que na tão citada igreja antiga, havia uma Igreja, mesmo que com divisões. Já hoje, quem poderia dizer que a IELB, por exemplo, seja "A Igreja"? Embora, reconhecidamente parte dela. A Santa Ceia não é da IELB. Precisamos urgentemente compreender melhor esta questão, mas a IELB tem se esquivado desta discussão, por isso multiplicam-se entendimentos diversos e surge uma certa paranoia de que aqueles que defende um estudo (até para reafirmar, refutar ou mudar a prática), estão defendendo uma SC tipo "liberou geral"... O outro grupo, por sua vez, parece entender que quem defende a "Santa Ceia Fechada" é ultraortodoxo e simplesmente está repetindo teologia antiga, sem nem saber do que se trata.
    A meu ver, a questão é muito importante e precisa ser tratada com suma importância. Citar a história da Igreja Primitiva pode ajudar, mas o panorama atual é extremamente diverso. E achar que a salvação (ou um Meio da Graça) é só de uma denominação é a marca das seitas.

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