terça-feira, 28 de março de 2017
Comunhão Fechada: testemunho... Hermann Sasse
Comunhão Fechada: testemunho de teólogos luteranos ao longo da história
Autor: André dos Santos Dreher
SASSE, Hermann: Isto é o Meu Corpo (62)
Debates e Controvérsias sobre a Santa Ceia
O Prof. Dr. Sasse afirma em seu livro Isto é o Meu Corpo, “Parece que estamos assistindo a um reatamento dos debates eucarísticos do século XVI numa escala ecumênica de âmbito mundial”.(63) Vale lembrar que ele escreveu isso em 1958 – e o debate sobre a Ceia do Senhor continua. E esse debate acontece por causa do destaque e posição que a Santa Ceia recebe por parte do povo de Deus, “Ocupando o Sacramento do Altar posição de tamanho destaque na Igreja, facilmente se pode entender por que, sempre de novo, se torna objeto de dissensão e controvérsia”. (64)
Sincretismo e Santa Ceia?
Sasse lembra que no Colóquio de Marburgo o Landgrave, diante do fato de Luteranos e Zwinglianos não terem entrado em acordo e por achar que o problema girava em torno de palavras, “julgava que um certo ‘syncretismus’ deveria ser possível. Isto, no entanto, foi rejeitado pelos luteranos ‘por razões graves e cristãs’”.(65) Isso se explica porque para Lutero a rejeição da presença real de Cristo na Santa Ceia era heresia capaz de acabar com a existência da Igreja.(66)
Comunhão com outras Denominações Cristãs?
“o reconhecimento de que também numa comunhão herética ainda há remanescentes dos meios da graça, verdadeiros crentes e, como consequência, algo da verdadeira Igreja de Cristo, não implica que possa haver ‘communicatio in sacris’, isto é, comunhão de púlpito e altar, com essa comunhão ou com seus membros individuais. Nesse respeito, Lutero e a Igreja Luterana seguiram o exemplo da Igreja Antiga, que, desde o tempo dos apóstolos através dos séculos, recusou admitir ao Sacramento do Altar todos os que eram considerados heterodoxos ou cismáticos. A ideia de que se pode admitir à Santa Comunhão pessoas com as quais não há perfeita paz, nem unidade de fé e, consequentemente, não há comunhão eclesiástica, é ideia moderna completamente alheia às igrejas do século XVI. O princípio de que comunhão de altar é comunhão de igreja foi reconhecido até mesmo pelas antigas igrejas reformadas”. (67)
Sasse cita que no século XVI, teólogos reformados negaram também a prática da intercomunhão. Cita os exemplos de Beza e Turrentini (falecido em 1867), que disse, “entre os que não estão unidos nos fundamentos da fé não pode haver comunhão de igreja”.(68)
Em nota de rodapé Sasse afirma, “É digno de nota que a Ceia do Senhor foi desde o início o que hoje denominamos de “comunhão fechada’”. (69)
Verdadeira Ecumenicidade da Igreja
“Esta verdadeira ecumenicidade da Igreja Luterana sempre deve ser mantida em mente, se desejarmos entender a inexorável seriedade com que sempre sustentou o princípio que comunhão da Igreja e do altar só podem ser praticadas onde se alcançou um consenso sobre a verdade do Evangelho e dos sacramentos de Cristo. Para o mundo, isso parece ser contradição porque pensa em termos de ‘mentalidade aberta’ e ‘mentalidade estreita’. Na Igreja de Cristo, contudo, tal contradição não existe, porque a busca da verdade e a busca da união são uma só, como na oração sumo-sacerdotal de nosso Senhor por sua Igreja, a petição ‘A fim de que todos sejam um’ está inseparavelmente ligada com a precedente ‘Santifica-os na verdade’”.(70)
Receber a Ceia em outra Igreja?
Sasse falando sobre a questão da participação da Santa Ceia em outra denominação Cristã afirma, “Este é o motivo pelo qual a Igreja Luterana, com todas as outras igrejas, exceto as batistas, reconhece um Batismo realizado em outra igreja, mas jamais reconheceu o Sacramento do Altar naquelas comunidades que negam a presença real e, consequentemente, não permite a qualquer um, mesmo num caso de emergência ou ‘in articulo mortis’, receber a Santa Comunhão em tais igrejas” . (71)
E na mesma página, em nota de rodapé afirma, “a questão se um luterano em perigo de morte não poderia receber o sacramento de um ministro reformado foi respondida negativamente por Lutero e por todos os dogmáticos, como também no conselho pastoral oferecido nos livros sobre ‘Casus Conscientiae’, por exemplo, Balduíno, Tractatus de Casibus Conscientiae, edição de 1654, p.345, em que se deixa claro que não se deve receber a Ceia do Senhor de um ministro reconhecidamente calvinista”.
Sacramento da Unidade da Igreja
Para Sasse, “o Sacramento do Altar tem sempre sido considerado como o grande sacramento da unidade da igreja”.(72)
Quem participa e quem não?
Falando sobre a expressão “comunhão dos santos” como sendo indicativo de quem deveria participar da Santa Ceia e quem não, Sasse segue dizendo, “É admoestação contra a participação do corpo e sangue de Cristo por parte de pessoas não-santas, pessoas que não pertencem à Igreja (pecadores excomungados, cismáticos, hereges), sendo a resposta apropriada da congregação: ‘Um é santo, um é Senhor, Jesus Cristo para a glória de Deus Pai.’ Confessar a ‘sanctorum communionem’ neste sentido significaria confessar que se crê na presença real, na participação do corpo e sangue na Santa Comunhão”(73). Por isso segue falando que “Crer na presença real implica fé na comunhão dos santos como realidade que existe dentro da Igreja”.(74)
Notas:
62) SASSE, Hermann. Isto é o meu Corpo: a luta de Lutero em defesa da presença real de Cristo no Sacramento do Altar. Tradução de Mário L. Rehfeldt. 2ª ed. Porto Alegre: Concórdia, 2003.
63) Idem, p. 11.
64) Idem, p.18.
65) Idem, p. 203.
66) Idem, p. 147.
67) Idem, p. 219.
68) Idem, p. 220, nota nº 169.
69) Idem, p.219, nota nº 167.
70) Idem, p. 249. Ênfases de Sasse.
71) Idem, p. 275.
72) Idem, p. 288.
73) Idem, p. 290.
74) Idem, p. 291.
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